Aterrar o Chão,
Recolher Horizontes
Exposição Individual
Igu Krieger
Curadoria Monique Andrade
Por que não se entregar ao mundo (...)"
"?mesmo sem compreendê-lo
Clarice Lispector
Correspondência, 1941
Viver é um constante ato de observar e absorver novos significados, apreender diferentes visões de mundo, criar respostas para as perguntas que fazemos a nós mesmos, questioná-las, buscar compreender aquilo que nem sempre tem resposta, mas é sentido, emoção, sentimento. É estar imerso, absorto em seus próprios pensamentos. Viver é vagar, se perder, para no final se encontrar. Se entregar ao território que ocupa, pensar as diferentes possibilidades espaciais do mesmo e como se inserir nele, vagar, recolher fragmentos, estar imerso nesse processo é o mote da produção de Igu Krieger. Entender como atravessar e deixar ser atravessado pelos diferentes contextos, trazer o seu próprio, pensar novos horizontes, caminhar até quando o espaço lhe oferece uma materialidade que evoca a conexão território-espaço-artista-matéria.
Essa expansão transcende as limitações do lugar físico e revela questões subjetivas, traz memória, afetos, pensamentos, cicatrizes. Esse diálogo entre interno e externo é explorado por Igu através de diferentes materiais, como cacos de vidro, tecido, cor e linha, partindo de uma caminhada que se fixa no chão, mas se expande em múltiplos horizontes.
Viver também é pensar o tempo, não como uma linha reta, mas um ciclo constante e circular. Construir (ou reconstruir) narrativas nada mais é do que trazer à tona memórias acumuladas na caminhada da descoberta de si. Aterrar o chão começa com o desejo de seguir, preparar o chão para uma nova caminhada, aterrar algo que estava no ar, um pensamento vago, um estado imerso, trazendo-o de volta à terra firme. Materializar uma visão de mundo do agora.
Recolher-se em si, a coleta dos cacos, para compreender aquilo que estava disperso, trazendo-o para um ponto de vista mais claro, definido. Levar esse pensamento para o aspecto macro, externo, pensar no lugar político, enquanto território existem outros corpos, contextos, vivências. Se aprende que a vizinhança é uma medida de proximidade e distância, encontros e desencontros. O corpo que ocupa, os pés que pisam, que aterram, dão função, energia e qualidade a esse território.
Dos Penetráveis de Hélio Oiticica aos Bichos de Lygia Clark, Krieger possui o neoconcreto como referência em sua produção, tensionando sua poética até o momento em que a materialidade fala por si. Igu junta em uma peça diferentes tempos, dos ferros de seu antigo ateliê aos cacos recém recolhidos em residência. As cores, tecidos, linhas e tintas são os fios condutores para a expansão do material, indo de encontro com o espectador.
Pensar nessa individual que ocupa o espaço expositivo d’A Pilastra em 2023, com trabalhos em sua maioria frutos da imersão de Igu Krieger em meio ao Polo de Modas, se mostra enquanto horizonte de uma caminhada de reconstrução. Ocupar o território, pisar o chão, criar novos horizontes. Essa exposição é um ponto de partida, não de chegada.
Galeria A Pilastra
Brasília - DF
03/05/2023 - 17/06/2023