Das pragas sociais eu sou a pior cocórocoo, 2019





Exposição Individual
Xibi Rodrigues
Curadoria Gisele Lima
"... O cabelo é um elemento no Brasil que está muito presente nas classificações. Porque se você é uma pessoa da pele escura, mas o cabelo é mais liso, é moreninho. Se é uma pessoa com a mesma tonalidade de pele mas o cabelo é crespo, é negro.” Rosana Paulino
O cabelo é um dos principais indicadores de uma identidade negra. Pensar no cabelo de nós mulheres negras é abordar algo íntimo e político ao mesmo tempo. Nossa afirmação de subjetividade enquanto indivíduos que reivindicam a beleza e a estética como lugar auto expressão e de tomada daquilo que lhe pertence. Uma afirmação social do que é cultural e herdado.
Das pragas sociais somos as piores, as viúvas, as mães de filhos assassinados, as sexualizadas, estupradas e mortas. Nós somos a maioria. Uma maioria invisibilizada e motor para que todas as outras vidas aconteçam. Nós limpamos sua casa, educamos suas crianças, vendemos seus produtos e movemos toda a sociedade.
E sobre todas essas questões fala Xibi Rodrigues na sua instalação realizada na vitrine da deCurators. Gozando da tomada do direito à experiência e ao deleite estético e formal que por tantos anos foi negado às mulheres negras, principalmente dentro do contexto da arte contemporânea.
Xibi explora a materialidade da massa, as propriedades plásticas do arame, as cores, as texturas, os processos de secagem e molde. Num ritual de trançar cobrinhas de cerâmica invocando para dentro deste trabalho, pelo cabelo, todas nós.
Para além de um penteado, as tranças são fruto de um acontecimento quase ritualístico. Trançar o cabelo de uma mulher negra é tecer uma história que partem dos fios que coroam seu ori e se entrelaçam com a sua história e ancestralidade. É momento de comunhão, sororidade e fortalecimento. Uma mulher preta segura de si é a maior ameaça que essa sociedade pode ter.
A experiência plástica enquanto posicionamento político. Nossa cabeça e fios que ganham outros lugares, outras formas. Medusa onde cada mecha carrega seu próprio veneno e seu próprio discurso. Nossos tons de marrons são o suficiente para vocês? Nosso deleite e subjetividade bastam para vocês? Nossas tranças moldadas pelas muitas que fomos e somos te intimidam?
Cocorócocó, não viemos aqui atrás da sua aprovação.
Galeria A Pilastra
Brasília - DF
15/03/2022 - 26/03/2022